Dona das marcas Ponto Frio e Casas Bahia, a Via Varejo abriu em São Paulo uma loja diferente de todas as outras de sua rede. Conectada a todo momento na internet, é bem menor que o habitual, com menos produtos, mas abarrotada de tecnologia, como experiência com realidade virtual, exposição virtual de produtos e rastreamento de clientes.

O G1 visitou a primeira loja digital do Ponto Frio, localizada no shopping Vila Olímpia, em São Paulo. Para os executivos da companhia, trata-se de um conceito que pode ser replicado em outras unidades e tem o potencial de mudar a cara das cerca de mil lojas da Via Varejo.

Vídeo: Loja conectada mescla mundos digital e real

Vídeo: Loja conectada mescla mundos digital e real

A digitalização das lojas físicas é uma tendência global do varejo, na medida em que a competição com empresas que vieram do e-commerce, como a Amazon, chega nas lojas físicas.

Segundo eles, aliás, algumas das tecnologias de uma loja da Amazon nos Estados Unidos, que não possui funcionários nem caixas, já estão presentes no ponto de venda do Shopping da Vila Olímpia.

“A gente quis construir um espaço onde o melhor dos mundos físico e online andassem juntos”, diz Marcelo Nogueira, diretor de modelo de vendas da Via Varejo.

Mundo físico + Mundo virtual

A loja é enxuta em dois aspectos. O espaço disponível é de apenas 170 metros quadrados, 15% do tamanho médio de outras lojas, que têm 1,1 mil metros quadrados. O estoque tem 150 produtos, quando o restante da rede possui mais de mil aparelhos em suas prateleiras.

“A gente traz a tecnologia para complementar a exposição”, diz Nogueira. “Não é o produto real, mas não é só ver uma foto na internet.”

Logo na entrada da loja, uma tela enorme exibe em tamanho real eletrodomésticos grandes, como geladeiras e máquinas de lavar. “Tem só dois refrigeradores expostos na loja, mas mais de 30 na tela virtual em tamanho real.”

Dentro do lugar, um painel vertical de LED, chamado de “prateleira infinita”, divide espaço com prateleiras físicas, repletas de ferros de passar e liquidificadores. A instalação mostra itens de linha existentes no catálogo da empresa, mas ausentes na loja. Assim como o telão da entrada, é sensível ao toque para permitir que o consumidor vire o produto e consiga ver mais detalhes.

A loja também vende móveis, mas quem quiser comprá-los não encontrará um só armário por lá. Os interessados deverão vestir óculos de realidade virtual para mergulhar em um mundo digital. É por meio dos óculos que o cliente verá as estantes, armários, mesas e sofás à venda. Eles já estarão posicionados em uma sala de estar digital, mas é possível mudar cor, estilo e os modelos vistos.

Por toda a loja, totens estão distribuídos para que produtos e preços sejam pesquisados diretamente no site do Ponto Frio.

Análise de expressões faciais

Posicionadas estrategicamente pela loja, câmeras captam imagens dos clientes. Elas são usadas para registrar quantas pessoas passam em frente à loja, quantas entram, por onde passam, os produtos mais interessaram e até se os clientes ficaram felizes ou decepcionados com o que viram exposto (um software detecta isso ao analisar as expressões faciais deles).

Outra integração permitirá que o cliente continue na loja uma compra iniciada no site.

“Se você se ‘logou’ no nosso site, procurou por produtos e abandonou o carrinho, chegou na loja, eu consigo te identificar e recuperar aquele carrinho. O vendedor não precisa começar a conversa do zero. O sistema vai trazer inclusive sugestões de produtos, dado o perfil e o seu histórico de pesquisa”, diz Nogueira.

O cliente poderá ser identificado caso tenha o aplicativo instalado. Isso pode ser feito ao acessar a rede Wi-Fi da loja, por reconhecimento facial ou caso forneça ao vendedor algum dado pessoal, como CPF e e-mail.

A Via Varejo analisa as informações do rastreamento dos clientes e das vendas da loja para decidir o que deve ser exposto e em que horário. “Da mesma forma que o site faz o rastreamento suas pesquisas dos clientes, essa loja aqui, com essas tecnologias combinadas, permite que façamos o mesmo”, diz o diretor da Via Varejo.

Mudando a cara das lojas

A abertura da loja digital do Ponto Frio é o carro-chefe da estratégia da Via Varejo de modernização das suas lojas. “Há possibilidade para escalar tudo que a gente está fazendo nessa loja”, diz Nogueira.

Se o modelo for replicado, ficam menores tanto o espaço destinado à exposição de produtos quanto o estoque. Segundo o diretor, esse espaço sobressalente pode:

A loja do Ponto Frio é uma loja-conceito, com uma diversidade de novas tecnologias em teste. Algumas tecnologias dela já serão adotadas em outras lojas, como o totem interativo, diz Marcos Teixeira, diretor de tecnologia da informação da Via Varejo.

“Eles vão olhar uma solução, como a prateleira infinita, que tem sinergia com um cluster de lojas, e vão replicar. Não necessariamente o que a gente rodar aqui é para todas as outras lojas. Vai depender da localização, do público etc.”

Para preparar o restante da rede, a Via Varejo ampliou a capacidade de conexão das lojas, para conseguirem manter conectados tanto os aparelhos da loja quanto os smartphones dos clientes. Um quarto dos pontos de venda já foram reformadas. O mesmo deve ocorrer com as outras até o meio do ano.

Para dar esse banho de internet nas lojas, Teixeira conta que a Via Varejo dobrou o tamanho da área de tecnologia, que agora conta com 1,3 mil profissionais.

Nas novas lojas, a visão é de que tamanho não é mais o diferencial. “As lojas novas já nascem com este conceito de que é preciso de 25% a 30% menos de espaço”, diz Nogueira.

Via Varejo x Amazon

Totem interativo na 'loja digital' do Ponto Frio mostra catálogo de produtos exibidos no site da rede. (Foto: Marcelo Brandt/G1) Totem interativo na 'loja digital' do Ponto Frio mostra catálogo de produtos exibidos no site da rede. (Foto: Marcelo Brandt/G1)

Totem interativo na 'loja digital' do Ponto Frio mostra catálogo de produtos exibidos no site da rede. (Foto: Marcelo Brandt/G1)

A Via Varejo inaugurou sua aposta para conciliar os mundos físico e virtual dias antes de a Amazon abrir nos EUA uma loja sem atendentes nem caixa, que usa tecnologia tanto para registrar quando um produto sai da prateleira quanto para cobrar um cliente por ele.

Os executivos garantem que a loja do Ponto Frio está em pé de igualdade com a da rival.

“A tecnologia que a Amazon implementou é baseada em imagem. Aqui, a gente já está usando tratamento com imagem para finalidades diferentes das da Amazon. Eu consigo saber onde você está trafegando, se é homem ou mulher, seu estado de espírito. Já é um reconhecimento. Nós não estamos usando as imagens para ver se você retirou um produto da prateleira ou saber se é um celular. Mas é algo que amanhã, dependendo da categoria e do sortimento, talvez faça sentido”, diz Teixeira.

A empresa brasileira mantém a concorrente norte-americana no radar, principalmente após ela ter lançado no Brasil sua iniciativa inicial no varejo online além dos livros e de seu leitor eletrônico. No ano passado, a Amazon abriu seu marketplace (venda de terceiros) de eletrônicos e produtos para casa e cozinha.

“A Amazon está aí na agenda, mas isso aqui [loja digital] a gente está fazendo porque faz sentido para o cliente”, diz Nogueira. “O nosso direcionamento não pode ser Amazon, Walmart ou Magazine Luiza”, desconversa o executivo para, em seguida, apontar as diferenças em relação à norte-americana, que só opera na internet.

“Eu não tenho dúvida de que ter uma loja física, faz uma diferença brutal, devido à comodidade. Ninguém quer ficar esperando em casa. Se você quer um telefone, você vem aqui e pega um.

Só que as lojas da Via Varejo têm enfrentando uma queda no fluxo de clientes. A empresa não diz quanto. Mas 30% das visitas aos estabelecimentos são de pessoas que apenas vão retirar os produtos comprados na internet. Essa nova realidade já faz a companhia testar a retirada de aparelhos fora de sua rede, como em agências dos Correios e até mesmo em lockers.

“Tem menos fluxo? Tem, mas é um fluxo mais qualificado. Os clientes vêm para uma experiência mais personalizada. Não adianta eu ficar aqui te dando um conteúdo irrelevante. Se eu aprender a fazer isso, você vai continuar comprando comigo”, diz Nogueira.

Link: https://g1.globo.com/economia/tecnologia/noticia/ponto-frio-aposta-em-loja-digital-com-realidade-virtual-e-vitrine-eletronica-para-mudar-a-cara-da-rede-veja-video.ghtml

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